A Esquecida
Quando vim a este mundo
não por mim - eu vim mandada -
Trouxe um destino comigo.
Mas passei por tantas nuvens,
me molhei de tanta chuva,
me perdi em muitos ventos,
virei poeira de estrada,
lírio, rosa, espinho, terra,
que esqueci minha mensagem.
Procuro me renovar:
pedra, sangue, cal, areia,
preciso de definir-me
e encontrar o meu perdido.
Choro sangue todo o sempre
quando estou entre oprimidos.
Sinto a fome dos famintos,
sofro a dor dos humilhados,
me consumo no momento.
Minha mensagem é dor.
Eis-me na areia que invento,
areia de um mar profundo:
mar de mistério. Eu, enigma,
consigo descer ao fundo.
Meu corpo verde flutua,
minha alma sobe, incolor.
E no fundo, outro infinito,
mais mergulho, mais atinjo,
alturas desconhecidas.
De folhas faço meu ninho
pelo prazer de fugir.
Nesse voo ilimitado,
humano não me corrompe.
Quem me busca, não me atinge,
quem me atinge é perseguido
como irmão, foge comigo.
A chuva cai, Vai lavando
tanto pó acumulado
do tempo que me antecede.
As imagens vão gritar
e eu, lembrada de mim mesma,
serei humana de novo.
Quero cumprir meu destino.
Não por mim. Eu vim mandada.
Livro: Hoje Poemas, pgs. 32 e 33

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