O Vivo e suas Perdas (peço emprestado este poema de nossa mãe para nos consolar diante do falecimento de sua querida filha Adriana em 13/04/2020)
Perdemos muita coisa. Desde o berço
sentimos nossa triste dispersão,
tão leve, que eu diria fossem passos
rompendo a névoa, a longa madrugada.
Sombrios passos despertando as ruas.
e indagando de nós pelas calçadas.
e procurando aflito e mais perdendo
até o andar fundir-se na distância.
Perdemos cada dia mais um pouco
do nosso corpo que se vai gastando
nos olhos duros, consumindo imagens,
nas mãos que se dissolvem como nuvens
e nas palavras - fundo desperdício
mais vasto e desumano. E o pensamento
e a memória largada em cada corpo
são carnes arrancadas de nós mesmos.
Nós nos dissemelhamos no convívio
e bem nos parecemos nos contrastes.
Mas de que ser, de que substância frouxa
são feitas nossas mãos que se consomem?
De que são feitos sentimentos vários?
De que matéria escassa e imponderável
seria feito o amor e o que nos prende
nas invisíveis tramas não palpáveis?
Ai, carência de sombra no meu corpo!
Ai, grave desapego na minha alma!
(Falemos mansamente e bem sinceros)
No fundo eu desejara algum milagre.
Certo eu quisera a primitiva forma,
a boca primitiva, o corpo intacto
para depois perdê-los noutro amor.
Contemplo-me despida de artifício
e choro nas ruínas do meu sonho.
Gastei-me sem reservas na procura
de algum sinal marcante. Ah! não me entendem
aqueles que encontraram sem cansaço
alguma flor que lhes bastasse ao tédio
e alguma fruta para a fome escassa.
Por que calar as mágoas, se o covarde
desejo nosso é sempre revolvê-las,
pretexto de fraqueza e de humildade
cobrindo nossa fuga e nosso medo?
Por que suster o grito que nos foge,
se então nos descobrimos em fragmentos
dispersos pelo charco e nas estrelas?
sentimos nossa triste dispersão,
tão leve, que eu diria fossem passos
rompendo a névoa, a longa madrugada.
Sombrios passos despertando as ruas.
e indagando de nós pelas calçadas.
e procurando aflito e mais perdendo
até o andar fundir-se na distância.
Perdemos cada dia mais um pouco
do nosso corpo que se vai gastando
nos olhos duros, consumindo imagens,
nas mãos que se dissolvem como nuvens
e nas palavras - fundo desperdício
mais vasto e desumano. E o pensamento
e a memória largada em cada corpo
são carnes arrancadas de nós mesmos.
Nós nos dissemelhamos no convívio
e bem nos parecemos nos contrastes.
Mas de que ser, de que substância frouxa
são feitas nossas mãos que se consomem?
De que são feitos sentimentos vários?
De que matéria escassa e imponderável
seria feito o amor e o que nos prende
nas invisíveis tramas não palpáveis?
Ai, carência de sombra no meu corpo!
Ai, grave desapego na minha alma!
(Falemos mansamente e bem sinceros)
No fundo eu desejara algum milagre.
Certo eu quisera a primitiva forma,
a boca primitiva, o corpo intacto
para depois perdê-los noutro amor.
Contemplo-me despida de artifício
e choro nas ruínas do meu sonho.
Gastei-me sem reservas na procura
de algum sinal marcante. Ah! não me entendem
aqueles que encontraram sem cansaço
alguma flor que lhes bastasse ao tédio
e alguma fruta para a fome escassa.
Por que calar as mágoas, se o covarde
desejo nosso é sempre revolvê-las,
pretexto de fraqueza e de humildade
cobrindo nossa fuga e nosso medo?
Por que suster o grito que nos foge,
se então nos descobrimos em fragmentos
dispersos pelo charco e nas estrelas?
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