Rondó da chuva caindo

A chuva chovendo chora
minhas gotas de alegria.
Que é do meu livro de estórias,
a bruxa de cartolina,
meu pilãozinho de vidro?
Que é do arraial na memória,
o apito rouco da usina
noite e dia, dia e dia?

A chuva chove que chove,
lembrança tanta haveria?

Santana será que existe?
As ruas da meninice,
o doido correndo alegre,
mais doido que alguém de nós.
O largo sem muita história,
uma igreja e a Santa rindo,
rindo, rindo sobre nós.

Cem olhos chorando o tempo
que a chuva mansa escorria.

A infância lavada em chuva,
o corpo crescente agreste,
as mãos tocando o infinito.
Lá longe, o medo e o silêncio,
a solidão incorpórea,
as coisas de desengano,
lá longe o tempo de agora.

E a chuva chovendo chora
minhas gotas de alegria.


Livro Hoje Poemas, páginas 77 e 78.

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