Maternidade

Meu filho teria o gosto dos humildes
e acharia o sentido de sua vinda
sem indagar-me, confuso.

Minhas mãos estariam cheias de sua presença.
Eu não teria o olhar incerto,
procurando formas entre as nuvens.
Eu não teria lábios ressequidos
sem estórias de gnomos e cânticos de embalar.
Eu não teria a grande indiferença,
rotulando meus passos de fugir.

Procuro a veste do meu filho
entre os fiapos de sonho.
A veste não tecida. O corpo não formado.
A alma bem que espreita a hora de se dar.
Meu filho anda comigo nos meus passos
e mora no meu corpo seu corpo nenhum.

Os traços se definem:
são feitos de desejo, música e vento.
Meu filho nascerá sonata ou flor.

Livro Hoje Poemas, página 47.

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