A FLOR E O POLÍGONO

Na vida feita de ângulos, enquadro-me
geométrica amarílis temporária.
Eu me basto somente na lembrança
de noite inclusa em pétala e perfume.

Resta-me a grande ausência no abandono
de jardins carregados de poesia.
E a leveza do vento no meu corpo
e o pólen impossível no meu cálice.

E o perfume...    Direis: é transitório
como a nuvem mais tênue.  É transitório
eu repito, tentando demover-me

e alçar-me em tentativa e ter a vida
não enquadrada e estéril, mas a vida
fecunda, libertada.    Sim, a vida.


Livro Hoje Poemas, página 46.

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